Capítulo 3
A Lei da Tripla Convergência
Por que há tantas pessoas de sucesso insatisfeitas? Descubra como ter sucesso e felicidade ao mesmo tempo.
EM FEVEREIRO DE 2006, A ESCRITORA AMERICANA Elizabeth Gilbert lançou um livro chamado Comer, rezar, amar. Elizabeth já havia escrito outros livros, mas nada parecido com esse. Assim que saiu da editora, Comer, rezar, amar se tornou um fenômeno de vendas. Nas primeiras semanas ele passou a ocupar a lista dos mais vendidos do New York Times. Poucos meses depois, o sucesso se repetiu em dezenas de países, em todos os cantos do globo. Em três anos, Comer, rezar, amar vendeu cinco milhões de exemplares, foi traduzido em 26 idiomas e fez de Elizabeth uma das mulheres mais influentes do planeta. Elizabeth é bonita. Alta, magra, loira, tem intensos olhos azuis e um sorriso largo e simpático. Ela hoje é uma mulher feliz, realizada, mas nem sempre foi assim.
Aos trinta e dois anos, Elizabeth parecia estar com sua vida encaminhada. Era casada e vivia numa casa enorme num subúrbio de Nova York, além de ter um apartamento em Manhattan. Trabalhava numa prestigiosa revista e já era escritora e roteirista de sucesso. Ela e o marido decidiram, então, ter o primeiro filho. Tudo parecia perfeito. Mas havia um problema: ao invés de sentir-se feliz, Elizabeth estava insatisfeita, triste, e, muitas vezes, entrava em pânico. Ela tinha um sentimento de que engravidar seria um erro. E pior: não queria mais estar casada, nem viver naquela casa enorme.
Ao questionar-se sobre o motivo de tanta insatisfação, ela vacilava, ficava insegura, confusa. “Como eu poderia ser tão imbecil a ponto de me envolver tão intensamente num casamento apenas para, em seguida, cair fora?”, ela se questionava. “Havíamos comprado essa casa há um ano. Eu não a queria desde o princípio? Eu não gostava dela? Então, porque eu perambulava pelos seus corredores à noite, choramingando? Eu não estava orgulhosa de tudo o que havíamos acumulado? Eu havia participado ativamente de cada instante da criação daquela vida — então, por que sentia que nada daquilo combinava comigo?”
Alguns meses depois, Elizabeth deixou o marido e saiu de casa. Após a separação, conheceu outro homem. Os dois se apaixonaram. O relacionamento parecia ter dado energia a sua vida outra vez. Mas a relação não passou de fogo de palha que se consumiu nos meses seguintes. Outra vez, o desespero tomou conta.
Quando Elizabeth percebeu que o problema, na verdade, era ela, e não o mundo a sua volta, sentiu que a mudança precisava partir de dentro. Alguma coisa lhe dizia que ela estava olhando o mundo pelo lado errado do telescópio. “Estava absorta nas coisas que não queria e perdi o foco do que era mais importante”, ela conta. “Tive de admitir: eu precisava de uma reviravolta que me devolvesse outra vez o comando da vida.” Ela optou, a partir de profundas e dolorosas reflexões, por uma decisão inusitada. Largou tudo para viajar por um ano em busca de respostas para sua vida. Destino: Itália, Índia e Indonésia. O propósito da viagem era desvendar o prazer na Itália, a fé na Índia e o amor, na Indonésia.
Sem dinheiro, ela convenceu seu editor a custear a viagem. Em contrapartida, assumiria o compromisso de escrever um livro sobre a experiência. Comer, rezar e amar é um livro de memórias sobre essa viagem. Desde a publicação do livro, milhares de pessoas iniciaram uma romaria por esses países, seguindo os passos contados por Elizabeth. Certo dia, num bate-papo com leitores, uma fã quis saber como a autora se sentia pelo fato de as pessoas estarem percorrendo o roteiro que ela descreve no livro, em busca das respostas que ela obteve. Elizabeth sorriu. Seus lábios finos insinuaram um movimento, logo interceptado por outra ideia que se interpôs. Ela se deteve por um instante. Depois, respondeu: “Recebo inúmeros e-mails pedindo informações sobre o roteiro que fiz enquanto escrevi o livro. Pessoas na Itália dizem que conseguiram encontrar quase todas as pizzarias que descrevo no livro, pedem para que lhes dê informações precisas sobre os lugares que estive na Índia e na Indonésia. Ok, tudo isso é excelente e inspirador. Mas a chave da questão não é que as pessoas sigam os passos da minha viagem, sigam para os lugares onde eu fui. O ponto crucial é que as pessoas, assim como eu, façam a si mesmas perguntas que as levarão a sua jornada”, ela refletiu.
Em seguida, ela explicou que, durante meses, andava às voltas com uma série de perguntas que culminaram nas suas decisões. “O que é que eu realmente quero? Por que estou infeliz? O que, se eu fizesse, de fato mudaria minha vida? Por que estou onde estou? Para onde estou indo? O que estou fazendo dessa vida maravilhosa que me foi dada?”, ela se perguntava.
As respostas não vieram a Elizabeth num relâmpago. “Foram quatro anos de sofrimento, desespero e, muitas vezes, de intensa solidão em que eu vinha me perguntando constantemente: se eu pudesse fazer alguma coisa, qualquer coisa, mas que me fizesse feliz, o que seria?”, ela contou, e depois, explicou: “eu me estimulava a não limitar minha resposta com a suposta realidade que eu vivia”. Elizabeth insistiu que tudo o que queria era descobrir o que era preciso para que se sentisse realizada, feliz. “Primeiro, eu queria essa resposta, depois pensaria no jeito de tornar-la uma realidade. E isso fez com que eu fizesse essa viagem”, ela disse, e em seguida, concluiu: “Eu acho que essa é a pergunta que todos somos chamados a responder em determinado momento de nossas vidas: qual é a missão que nos trouxe aqui, e o que está nos impedindo de realizar-la?”
Aos 15 anos, Elizabeth havia definido o que queria ser na vida: ela queria ser uma escritora. Aos 30, ela percebeu que seu estilo de vida a estava desviando do seu sonho. Ela se deu conta de que se encontrava numa encruzilhada, seguindo um trote improvisado a partir do que via a sua volta, ignorando seu desejo mais profundo. Muitas vezes, vivemos assim a vida inteira. Com medo da resposta, evitamos perguntas. Esse medo nos limita, nos aprisiona a definições irreais, que mascaram nossa insatisfação, mas que não nos satisfazem. Insatisfeitos, arrastamos essa carga falsa por todo lugar. Em outras palavras, relutamos em nos desfazer das coisas que construímos ao longo do tempo — a casa grande no subúrbio, o sonho de ter um filho em determinado ano, o cônjuge, a carreira que iniciamos —, tudo com medo de enfrentar o novo. Enquanto vivermos num mundo de suposições e análises externas, não poderemos atingir respostas efetivas. Nossa incerteza sobre nós limita nossa curiosidade acerca do que somos capazes. Por isso, a solução dos nossos problemas deve partir de dentro.
A história de Elizabeth é interessante porque é um exemplo prático do que falamos nos dois primeiros capítulos do livro. Ou seja: enquanto ela seguia o trote normal das pessoas a sua volta, sentia-se insatisfeita e decepcionada, sua vida parecia ter perdido o sentido. Mas quando ela se voltou para a busca do seu desejo interior, ocorreu uma mudança profunda, que deu um sentido novo a sua vida. Mas há outro ponto-chave: Elizabeth nos dá pistas claras de como construir essa busca interior. Esse é o objetivo desse capítulo: descobrir como construir um propósito que esteja alinhado com quem realmente somos.
A TEORIA DE DAVID RICARDO
No início do século 19, o economista inglês David Ricardo desenvolveu a base da teoria do livre comércio entre as nações. Essa teoria é fundamentada na ideia de que há uma única maneira de todos os países se beneficiarem das transações comerciais. Qual é essa maneira? Que cada país se especialize no produto onde detém maior vantagem em comparação aos outros. Como exemplo, David Ricardo afirma que em Portugal é possível produzir vinho e tecidos com menos trabalho do que na Inglaterra. No entanto, o custo relativo de produzir tecido na Inglaterra é menor do que em Portugal. Ou seja: a Inglaterra tem um custo maior para produzir vinho e custo apenas moderado para produzir tecidos. Portugal, por sua vez, tem facilidades para produzir ambos. Mas, mesmo que seja mais barato produzir tecidos em Portugal, ainda seria melhor para o país produzir vinho, gerar excedente de produção e comprar tecidos fabricados pelos ingleses. Nesse caso, diz David Ricardo, a Inglaterra se beneficiaria deste comércio, pois o seu custo de produzir tecidos permaneceria o mesmo, mas obteria vinho a custos menores do que antes. Portugal também se beneficiaria da especialização em vinho e obteria ganhos de comércio. Em outras palavras, David Ricardo sugere que cada país se concentre em um nicho de mercado baseado na sua vantagem comparativa em relação a outros países, beneficiando-se, dessa forma, em setores nos quais é mais eficiente e comercializando esses produtos com outros países. David Ricardo chamou essa teoria O Princípio das Vantagens Comparativas.
Faça uma ginástica mental e traga esse conceito para nossa realidade individual. Imagine um mundo onde cada pessoa tenha a oportunidade plena de desenvolver seu talento ao máximo. Suponha, por exemplo, que seu talento fosse a pintura e que você tivesse à disposição tudo o que é necessário para desenvolver esse talento. Nesse caso, seu propósito, ao longo da vida, seria aprimorar essa habilidade com conhecimento, técnica e prática. Agora, imagine que isso se repetisse com todas as pessoas, em todas as áreas. Cada pessoa desenvolvesse o melhor que há em si e oferecesse o que produz para a troca. Será que esse princípio não alteraria a história da humanidade? De acordo com a teoria de David Ricardo, cada país seria beneficiado caso se especializasse no produto onde detém maior vantagem comparativa. Isso melhoraria a situação de todos os países envolvidos nas trocas internacionais. Se, da mesma forma, cada pessoa desenvolvesse suas capacidades, se especializasse na área onde está seu talento natural, o mundo todo não se beneficiaria? E por que não é assim?
Toda pessoa quer, naturalmente, ser tudo o que pode ser. Esse desejo é intrínseco à natureza do ser humano. Não há como fugir dele, porque esse é o objetivo último da natureza. O sucesso da vida está em nos tornarmos tudo o que somos capazes. Em outras palavras, o desejo pelo sucesso é, na verdade, o anseio inato por uma vida mais produtiva, próspera e abundante, dentro de nossas capacidades. Por que, então, se a ambição pela evolução é inata, ela é tão rara entre os humanos? Por que tantas pessoas vivem sem atingi-la?
O problema está na maneira como fazemos as escolhas mais importantes de nossa vida. Na hora de definir nosso propósito, ao invés de olhar para nossos talentos e ver onde estão nossas vantagens individuais, cometemos o erro de olhar para as circunstâncias externas. Observamos o que os outros estão fazendo, quais os resultados que eles estão obtendo, e fazemos nossas escolhas a partir dessa análise. Ou seja, ao invés de usar o Princípio da Vantagem Comparativa, usamos outro princípio: o da Análise Comparativa. Enquanto que no Princípio da Vantagem Comparativa seguimos nosso talento natural para definir nosso propósito, no Princípio da Análise Comparativa traçamos nosso caminho a partir da análise de fatores externos, alheios a nosso talento. Agindo dessa forma, ignoramos nossas vantagens pessoais e seguimos um caminho completamente estranho ao nosso talento. Anos depois, perguntamo-nos por que não deu certo. Por que as coisas são tão complicadas?
O sucesso nunca é resultado de fatores externos. Quando fazemos nossas escolhas observando qual o tipo de mercado que está em alta ou o que deu certo para os outros, é como se quiséssemos ir para uma determinada cidade, usando um mapa de uma cidade distinta, só porque a outra pessoa chegou onde queria, com esse mesmo mapa. Não percebemos que as cidades são distintas e que, numa cidade diferente, por isso, nunca chegaremos ao local desejado. Observe o caso das pessoas seguindo o caminho trilhado por Elizabeth Gilbert em busca de soluções para seus problemas, só porque ela encontrou resposta para os dela. Essas pessoas nunca obterão o mesmo resultado que Elizabeth, por um motivo muito simples: as perguntas não são as mesmas. O problema é que, muitas vezes, caímos na armadilha do Princípio da Análise Comparativa sem saber.
A INFLUÊNCIA QUE NOS TORNA IGNORANTES, PARTE 1
Se as respostas para nossas perguntas estão dentro de nós, deixar-se influenciar por pessoas e fatores externos pode ser fatal para o sucesso e a felicidade na vida. Você já se perguntou até onde a influência das outras pessoas é responsável pelas suas escolhas mais importantes? Será que a influência de outra pessoa é capaz de alterar sua opinião mesmo sobre coisas que você tem certeza, só porque a opinião dele é contrária a sua? Antes de responder, analise o estudo a seguir.
Na década de 50, Solomon Asch, um professor de psicologia da Universidade de Swarthmore, na Pensilvânia, quis saber com precisão até onde somos influenciados, em nossas decisões, pelas opiniões de outras pessoas. Solomon selecionou um grupo de estudantes voluntários, dizendo-lhes que participariam de um estudo sobre acuidade visual. Ao mesmo tempo, ele contratou seis jovens atores, que também participariam da experiência. Ao longo do estudo, Solomon colocou cada estudante, individualmente, junto a um grupo de atores contratados.
O teste era muito simples. Numa cartolina, Solomon mostrou três linhas verticais de diferentes tamanhos. A linha da esquerda tinha dois centímetros. A do meio, cinco, e a da esquerda, três. Em seguida, apresentou uma segunda cartolina com apenas uma linha. Essa tinha cinco centímetros, exatamente igual à linha do meio da primeira cartolina.
A seguir, Solomon solicitou aos alunos que dissessem em voz alta qual das três linhas anteriores mais se identificava, em tamanho, com a quarta linha. A resposta, como você deve ter percebido, era simples e absolutamente inconfundível.
A questão é que Solomon havia combinado com os seis atores contratados que, de forma unânime, optassem pela mesma resposta. A resposta escolhida, no entanto, era uma resposta errada. Ao invés de dizer que a linha 4 tinha o mesmo tamanho da linha 2, eles disseram que ela tinha o mesmo tamanho da linha 3. Apesar da evidência da resposta, quando chegou a vez do estudante voluntário, estranhamente, ele concordou com o grupo, optando pela alternativa errada. Solomon repetiu a mesma experiência com 130 estudantes. Apesar da absurda incoerência 75% deles mantiveram-se fiéis à resposta dos atores.
Num segundo estudo, Solomon seguiu exatamente os mesmos procedimentos do anterior. Um estudante foi colocado no meio de um grupo de atores, orientados a dar a resposta errada. Mas desta vez, ele acrescentou ao grupo de atores um que divergisse dos demais, optando pela alternativa correta.
O resultado foi surpreendente. O fato de o estudante voluntário ter uma única pessoa divergindo do restante do grupo foi o suficiente para alterar o resultado em índices absolutos. Agora, em todos os casos, o estudante escolhia a resposta certa. É estranho como existe em nós uma tendência natural de seguir o Princípio da Análise Comparativa.
A INFLUÊNCIA QUE NOS TORNA IGNORANTES, PARTE 2
Suponha, por exemplo, que você tenha recém-chegado numa cidade desconhecida. É a hora do almoço, e está à procura de um restaurante. O local onde você se encontra é justamente a área gastronômica da cidade. O primeiro restaurante pelo qual passa possui uma aparência impecável. O ambiente é limpo, bem iluminado, discreto e agradavelmente decorado, mas está vazio. O mesmo acontece com o segundo e com o terceiro. O quarto, entretanto, não possui nada em comum com os anteriores. Seu ambiente é escuro, sua aparência é suspeita, os cuidados com higiene não parecem ser os mais apropriados. Há, porém, um detalhe: ao contrário dos outros, este está praticamente lotado. As mesas estão todas cercadas de pessoas alegres, aparentemente satisfeitas. O que você faria? Se você é como a maioria, quando mal percebe, já estará sentado numa das poucas mesas vagas.
Por que isso acontece? Porque essa é a maneira como fazemos nossas escolhas. Somos seduzidos pela análise comparativa. Quando vemos um restaurante lotado nossa mente o compara aos outros, que estão vazios, e conclui: “a comida desse restaurante deve ser fantástica”. Na maioria de casos como esses, a análise comparativa parece um padrão natural. Nós a usamos diariamente para fazer escolhas. Como no exemplo acima, deduzimos que, se as pessoas escolhem um restaurante evitando outro, aquele que elas escolheram deve ser o melhor. Mas nem sempre é assim?
Imagine, por exemplo, que seu prato preferido seja filé de peixe com salada de alface. Ao avaliar o cardápio do restaurante lotado, você descobre que a casa só oferece bife com fritas. Você olha a sua volta, é o que todo mundo está comendo. Você pensa um pouco e decide, mesmo contra a vontade, escolher um bife a milanesa com batatas. Afinal, essa é a sua única opção. Certo?
Mais tarde, você pergunta duas coisas ao garçom. Primeiro, quer saber o segredo do sucesso do restaurante; depois, o motivo pelo qual os outros estão vazios. O garçom sorri, e diz: “Há uma tradição na cidade, seguida pela maior parte da população, de comer bife com fritas às quartas-feiras. Hoje é quarta-feira, e nossa especialidade é bife com fritas. Os outros restaurantes oferecem apenas variedades de peixes”. O garçom faz uma pausa, depois conclui. “O movimento que você percebe só acontece às quartas-feiras, quando os outros estão vazios. No restante da semana, os outros estão lotados e o nosso, vazio”. Você deixa o restaurante desolado, insatisfeito e dizendo a si mesmo como pode ter sido tão estúpido e não ter se informado antes.
A diferença entre o Princípio da Vantagem Comparativa e o Princípio da Análise Comparativa é que o primeiro parte da profunda compreensão das nossas vantagens pessoais, enquanto o segundo tem sua estrutura fundamentada em suposições que criamos a partir do que vemos. Pessoas que alcançam resultados extraordinários sempre optam pelo Princípio das Vantagens Comparativas. Dessa forma, elas criam uma legião de seguidores que, usando o Princípio da Análise Comparativa, percebem os resultados que as outras pessoas alcançaram e tentam seguir o mesmo caminho, imaginando que terão os mesmos resultados, mas isso sempre será frustrante.
A LEI DA TRIPLA CONVERGÊNCIA
Você se lembra da história das irmãs Polgar, vista no primeiro capítulo? Desde muito cedo, elas foram treinadas, instruídas e educadas com o propósito específico de se tornarem as melhores no xadrez. Em consequência de uma vida inteira de árdua dedicação ao estudo e à prática do xadrez, elas conseguiram chegar quase ao topo. Mas antes de chegar lá, desistiram da carreira. Agora, compare a história das irmãs Polgar com a história de Elizabeth Gilbert. Elizabeth, a certa altura da vida, decidiu resgatar seu sonho, sem se importar com as consequências. Em outras palavras, ela renunciou a um estilo de vida pelo seu sonho. As irmãs Polgar, ao contrário, abandonaram seu sonho, por um estilo de vida. A certa altura do caminho, elas chegaram à conclusão de que a vida é muito mais do que uma carreira, ou, pelo menos, do que a carreira no xadrez. Por que isso ocorre?
A resposta está na maneira como ambas construíram seu propósito. Nesse capítulo, vamos analisar como as pessoas que têm sucesso e felicidade em sua vida constroem seu propósito. Do vício da análise comparativa, vamos fazer o giro e nos focar no desenvolvimento do hábito de usar o Princípio da Vantagem Comparativa para construir nosso Conceito Kelleher. Um bom começo é compreender o que difere a história de Elizabeth Gilbert com a das irmãs Polgar: Ambas tiveram um propósito definido e seguiram um longo caminho para concretizá-lo. Mas, no final, como vimos, os resultados foram muito distintos. Onde está o erro das irmãs Polgar? A resposta está no núcleo central do propósito. Para construir um Conceito Kelleher que reflita o núcleo das nossas habilidades, precisamos encontrar o ponto de convergência da resposta de três fatores:
1. Onde está seu talento?
2. Qual é sua paixão?
3. Como você transformará isso em renda?
A convergência desses três fatores — talento, paixão e renda — forma a Lei da Tripla Convergência. É o cumprimento dessa lei, ou não, na hora de definir o propósito, que fará toda a diferença, é ela que distingue histórias como a de Elizabeth Gilbert e das irmãs Polgar. Elizabeth construiu seu propósito a partir da compreensão pessoal desses três fatores. Ela descobriu, por meio de reflexão profunda, o ponto exato onde talento, paixão e renda convergem. As irmãs Polgar tiveram seu propósito estabelecido pelo pai, Laszlo. E de onde ele retirou esse propósito? Da análise de que o xadrez seria uma prática adequada para realizar sua experiência. O erro de Laszlo, portanto, foi ignorar a individualidade das filhas na elaboração do Conceito Kelleher. A técnica e prática excessivas, somadas ao estímulo obtido quando alguém se torna excelente em algum esporte, as tornaram grandes jogadoras. Mas a falta de um ou mais fatores que compõem a Lei da Tripla Convergência as fez desistir e optar por outros tipos de negócio.
Explorar o melhor que há em nós é uma tendência lógica. Mas temos dificuldades de entender, de forma exata e clara, onde está nosso potencial. Sem essa compreensão, nos sentimos inseguros, falta-nos a autoconfiança de que somos capazes, de que possuímos as habilidades necessárias. Respondendo a essas três questões de maneira séria, descobriremos nosso potencial e, por consequência, eliminaremos a insegurança gerada pela incerteza. Qualquer pessoa que compreenda a Lei da Tripla Convergência e invista tempo e recursos para desenvolver seu talento atingirá resultados excepcionais.
Alcançar o ponto de convergência entre talento, paixão e renda, porém, pode não ser tão simples quanto parece. É preciso ter claro que não é o desejo, a meta, a estratégia ou a intenção de alcançar determinado propósito que o fará ter êxito. Esse propósito deve ser o resultado de uma compreensão clara da Lei da Tripla Convergência. Ele precisa ser o ponto exato onde os três fatores da lei convergem. Para facilitar essa tarefa, vamos analisar com mais detalhes cada um dos três fatores.
1. TALENTO
Muitas vezes, por praticarmos algo durante anos, criamos certa competência para essa tarefa e a confundimos com talento. Descobrir onde está nosso talento vai muito além daquilo no qual nos sentimos competentes. A competência pode ser resultado da prática. Suponha, por exemplo, que após longos anos de estudo em matemática, você se torne muito bom em cálculos. Isso significa que seu talento está na matemática? Não necessariamente. Você pode ter uma inclinação para o cálculo e a prática o tenha tornado muito bom, mas seu talento realmente está aí? Você passa horas e horas fazendo cálculos por pura vontade impulsiva?
Muitas vezes, iludidos pela armadilha da competência, seguimos carreiras onde alcançamos certo limite, mas nunca obtemos maestria porque nos falta o talento. Pense outra vez na história das irmãs Polgar. Elas são um exemplo prático. O que aconteceu? Elas se tornaram especialistas em xadrez, conquistaram um espaço razoável, mas nunca realizaram seu sonho que era vencer um campeonato mundial, e pior, desistiram da profissão, argumentando que havia coisas mais importantes na vida. Claro: havia um talento exigindo ser desenvolvido. Lembre-se: talento é aquela aptidão natural que o permite exercer determinada atividade, difícil de ser executada pelos outros, com tremenda naturalidade, sem limites de tempo. Por isso, talento é o impulso natural da evolução da vida palpitando em nós.
2. PAIXÃO
Você conhece alguma pessoa que parece ter um motor interno que a empurra? Que simplesmente avança pela vida? Que define um alvo e parece se divertir enquanto age para atingi-lo? Que possui uma energia contagiante? Essa pessoa, além de talento, tem paixão pelo que faz. Talento é o que define a ideia central se você se sente realizado ou não. O ponto-chave sobre o trabalho feito com talento é que ele flui naturalmente. Porém, dentro do campo do seu talento, tem algo pelo qual você sente um interesse irresistível, que é sua paixão. Escrever é um talento. Existem, porém, inúmeras formas de aplicar esse talento. Você pode, por exemplo, ser um jornalista, publicitário ou escritor, e, mesmo dentro desses campos, existem inúmeras opções. Para responder à segunda questão da Lei da Tripla Convergência, você precisa definir, entre essas opções, aquela pela qual você possui verdadeira paixão.
Há uma maneira muito simples de saber se você está atuando no campo da sua paixão: se você se perde no tempo enquanto trabalha, se não vê problema em chegar cedo ao trabalho e sair mais tarde; se está tendo prazer no que faz. O escritor John Irving, por exemplo, confessou, certa vez, que escrevia doze horas diárias, durante inúmeros dias consecutivos. Questionado sobre o que o fazia trabalhar por tanto tempo, ele disse: “O fator implícito é o amor. A razão pela qual consigo trabalhar tão duro é que escrever não parece trabalho para mim”. Irving, além de talento, tinha amor, ou paixão, pelo seu trabalho. Pessoas que são apaixonadas pelo que fazem constantemente perseguem suas prioridades. Eles procuram com extrema tenacidade as coisas que faltam para atingir seus objetivos, e, assim que as encontram, imediatamente as enfrentam e as dominam, seguindo adiante. Mas é preciso ter cuidado: a resposta à segunda questão não se estrutura sobre aquilo que estimula sua paixão, mas aquilo pelo qual você é tão apaixonado que o faria sem nenhuma outra recompensa, a não ser o simples prazer de fazer-lo.
3. RENDA
Muitos anos atrás, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche se perguntava se haveria, por acaso, algo que destruía alguém mais rapidamente do que trabalhar, pensar, sentir, sem uma necessidade interior, sem uma escolha profundamente pessoal, sem prazer? Isso não é novidade. O prazer da vida vem de dentro, da necessidade de desenvolver aquilo que arde dentro de nós: nosso talento e nossa paixão. Mas existe um terceiro fator indispensável para obter sucesso e felicidade na vida: renda. Sem esse fator, o seu talento e a sua paixão terão pouca serventia. Uma atividade que envolve apenas talento e paixão, mas não traz resultados financeiros, não é trabalho; é um hobby, e ninguém sobrevive do seu hobby.
Mas a notícia boa é que a possibilidade de encontrar o talento e a paixão e não conseguir transformar isso em renda é muito remota. O problema sobre esse fator é outro: a maioria das pessoas nunca chega a seguir a Lei da Tripla Convergência por que há uma tendência comum de se focar apenas na renda. A questão básica, na hora de escolher uma profissão, parece ser sempre o mesmo: como posso fazer dinheiro? A única forma de obter dinheiro é através da oferta de serviços e produtos. Nós trocamos nosso serviço ou produto por dinheiro, razão pela qual nossa renda sempre será proporcional à qualidade do nosso serviço. Quanto melhor for nosso serviço ou nosso produto, melhor será nossa renda. Isso significa, de maneira muito óbvia, que o sucesso não é consequência do dinheiro, mas o dinheiro é consequência do sucesso. Primeiro, precisamos alcançar o sucesso, para, depois, como consequência, obter dinheiro. Se você, por exemplo, voltar ao capítulo anterior, e analisar o propósito de Paulo Coelho, Gisele Bündchen, ou mesmo de Elizabeth Gilbert, verá que nenhum teve como foco determinada soma de dinheiro, mas, pelo contrário, o desenvolvimento de seus respectivos potenciais. Porém, o fator dinheiro está intrínseco em cada potencial.
Estabelecer um propósito com o foco exclusivo na renda é um erro, da mesma forma como é um erro ignorá-lo. Se você se tornar o melhor do mundo em alguma coisa, sem conseguir converter isso em resultado financeiro, chegará um momento em que terá de abandonar o que faz em prol de algo que lhe sustente. Por isso, ao criar o Conceito Kelleher, você precisa levar esse fator em conta. Não permita ser enganado por um discurso contrário. Ao estabelecer um propósito, o fator renda é tão importante quanto o talento e a paixão. A diferença é que, uma vez estabelecida a forma como você transformará seu talento e sua paixão em renda, você esquece o fator renda e se concentra, basicamente, no desenvolvimento dos dois outros.
A LEI DA TRIPLA CONVERGÊNCIA E O CONCEITO KELLEHER
Por tudo isso, elaborar um Conceito Kelleher não é desenvolver apenas um desses três fatores. Focar-se em apenas um desses fatores poderá até levá-lo a competência, ao destaque, mas nunca a excelência ou a felicidade. Para alcançar a excelência, você precisa encontrar o ponto de convergência entre os três fatores. É a partir dessa convergência que as pessoas com um desempenho extraordinário tomam suas decisões. Veja, por exemplo, Warren Buffet. Em 1998, ele aplicou us$ 290 milhões no Banco Wells Fargo. Ao ser questionado sobre o que o havia levado a fazer esse investimento, ele disse: “Eles persistem no que entendem bem e deixam suas habilidades, não seu ego, determinar o que eles devem atingir”, ele se justificou. Observe bem: persistem no que entendem bem e deixam suas habilidades e não seu ego determinar seu propósito.
Para obter esse tipo de clareza de propósito, você precisa estar alinhado com a Lei da Tripla Convergência. Ela lhe oferecerá um terreno fértil e seguro para desenvolver o melhor que há em você. Esse propósito, porém, não pode ser a ambição de ser o melhor em relação aos outros, mas em ser o melhor que você pode ser. Em outras palavras, seu objetivo deve ser uma ambição de compreender aquilo no que você pode ser o melhor, levando em conta seu potencial. Essa ambição deve partir do Princípio da Vantagem Comparativa. Seu núcleo deve ser seu potencial, e não uma vontade com base em circunstâncias externas. Ter essa distinção clara em mente é absolutamente crucial.
A definição do Conceito Kelleher, como resultado da compreensão da Lei da Tripla Convergência, oferecerá um guia seguro para todas as suas decisões e esforços, como a busca de conhecimento, técnica e prática. A ideia é muito simples. Observe Gisele com seu conceito de “ser a top número 1 do mundo”; Elizabeth Gilbert, com o de “publicar alguma coisa, qualquer coisa, antes de morrer”; ou Paulo Coelho com o de “ser um escritor lido no mundo inteiro”. O que eles têm em comum? Todos compuseram uma ideia simples, cristalina, estabelecida sobre o talento, paixão e renda, que usaram como conceito para as decisões em suas respectivas vidas. Essa atitude trouxe resultados impressionantes.
Reveja outra vez os questionamentos de Elizabeth Gilbert no início deste capítulo. Ao questionar seu propósito sem medo das respostas, Gilbert combinou e preencheu vários aspectos importantes de sua personalidade, retomando o foco no seu propósito enquanto expandia suas fontes de significado. No caso de Gisele, ocorreu a mesma coisa. No início de sua carreira, seu perfil não se adequava ao que estava em evidência no mundo da moda. Gisele tem um corpo delineado, cheio de curvas, com seios mais fartos, seu andar é cheio de ginga e sensualidade, o contrário do que se exigia na época, quando as modelos eram magras, quase esqueléticas, e o corpo tinha de ser reto, sem curvas e com o mínimo de seio possível. Imagine se ela tivesse baseado seu objetivo levando em conta as circunstâncias externas? Gisele manteve sua originalidade, ela não tentou se adaptar à moda, ela apenas seguiu o seu estilo, e por mais incrível que isso possa parecer, ela conseguiu fazer com que a moda adotasse o estilo dela.
ENCONTRE SUA SINGULARIDADE
Lembre-se: o fato de estarmos fazendo algo há anos não significa necessariamente que essa é a nossa habilidade. E se o que estivermos fazendo não representa o núcleo de nossa habilidade, é impossível atingir a excelência. Da mesma forma, o fato de alguma coisa ser uma oportunidade única na vida não tem importância alguma se essa oportunidade não está alinhada com o nosso propósito. Mas nós temos certa suspeita com esse tipo de afirmação. Temos medo de perder uma chance, e de não termos outra. Dizer “não” para grandes oportunidades exige tremenda disciplina. Mas sem essa disciplina, corremos um risco muito grande de andar em círculos.
Um caminho para entender esse processo é cavar um pouco mais fundo na história de qualquer empresa. Observe, por exemplo, o resultado da análise de três gigantes americanas no setor de vendas a varejo: Walmart, Target e Sears. Clientes, empregados, investidores, qualquer pessoa tem uma ideia clara sobre o que o Walmart e o Target têm para oferecer. O conceito do Walmart é fornecer aos consumidores um vasto sortimento de produtos de boa qualidade com o menor preço possível. A estratégia para viabilizar essa meta é reduzir ao máximo a diferença de custo entre o fornecedor e consumidor, e repassar essa economia ao consumidor através do preço final mais baixo. Iniciando com uma loja, Walmart possui cerca de seis mil e duzentas lojas espalhadas pelo mundo.
Em contraste, o conceito da Target é diferente. Suas lojas possuem uma aparência um pouco melhor, a atenção com os consumidores também é um pouco melhor, e a qualidade dos produtos também está um pouco acima dos oferecidos pelo Walmart. No entanto, mesmo que seus preços não sejam rentes ao chão, contando o fator custo e benefício, eles são bastante acessíveis. As duas empresas, tanto o Walmart como a Target, desenvolveram um conceito baseado no seu potencial e deixam claro, a qualquer cliente, qual é esse potencial.
Em contrapartida, vamos analisar o Sears, que desenvolveu seu propósito a partir de considerações observadas em fatores externos. Décadas atrás, as pessoas sabiam exatamente o que o Sears tinha para oferecer. Para o cliente, estava claro quem eram as concorrentes e quais as vantagens e desvantagens que a companhia oferecia em relação a essas concorrentes. Mas com o passar dos anos, a posição do Sears foi se tornando cada vez mais confusa, até que seu conceito interno se perdeu completamente. O efeito logo afetou seus clientes, deixando-os igualmente confusos sobre o motivo pelo qual deveriam ir até uma loja Sears, ao invés de ir às concorrentes. Como resultado, o Sears passou a perdê-los.
Quando os clientes começaram a trocar o Sears por outras lojas, a companhia, desnorteada, iniciou uma série de mudanças. Na década de 80, entrou para o setor de serviços financeiros; na década de 90, deixou os serviços financeiros e se focou mais no setor de ternos e roupas feitas; em seguida, desviou-se mais uma vez para o setor de ferramentas. Fechou suas lojas nos shoppings para abrir “lojas tudo-em-um”, depois criou lojas separadas para o setor de móveis e ferramentas pesadas. Em 1995, encerrou suas vendas por catálogo que estava em atividade por cerca de cem anos. Em 2002, voltou a vender por catálogo. Primeiro, enfatizava marcas exclusivas, como Craftsman, DieHard e Kenmore, depois, adotou sua marca própria.
Em 2002, Alan Lacy assumiu a direção da empresa. Numa entrevista ao Wall Street Journal, ele reconheceu a crise de identidade da empresa e disse que sua primeira missão seria responder a uma questão-chave: por que um consumidor deveria ir ao Sears ao invés de ir à Target? A partir da resposta a essa questão, a companhia iria redefinir seu conceito. Em outras palavras, Alan Lacy propôs-se a descobrir: onde está nossa singularidade? Para responder a essa questão, a empresa teve de olhar outra vez para dentro de si e definir um propósito novo, que partisse do seu potencial.
Olhando isso sob outro prisma, a pergunta que Alan Lacy propôs ao Sears todos nós temos que colocar diante de nós e tentar responder. O que, por exemplo, você tem a oferecer? Por que sua oferta é melhor do que as outras opções disponíveis na concorrência? E como você poderá se especializar profissionalmente nesse setor? A resposta a essas perguntas nos levará, inevitavelmente, ao núcleo do nosso propósito, e se respondidas com humildade, certamente estarão embasadas na convergência do seu talento, paixão e renda.
Se você possui um escritório de advocacia, por exemplo, deve ter claro qual o motivo que fará o cliente procurar seus serviços e não os da concorrência. Se você tem um salão de beleza, o que você oferece ao consumidor que lhe diferencia dos outros salões? Não é a questão de ser melhor ou pior, mas a de ter algo além, diferente, que lhe distinga da maioria. E essa distinção precisa estar no plano criativo, e não no competitivo. O que isso quer dizer? Você precisa buscar essa distinção dentro de você, desenvolver seu potencial, e não tentar imitar o sucesso dos outros. Se essa diferença estiver fundamentada sobre seu talento, você o fará com paixão, e o sucesso financeiro será praticamente inevitável.
O PROCESSO COMO PARTE DO RESULTADO
Desenvolver a Lei da Tripla Convergência, porém, pode ser um processo demorado. E poucos exemplos, talvez, sejam mais evidentes da lentidão desse processo do que a trajetória da própria Gisele Bündchen. Observe a carreira dela. Primeiro, ela venceu a etapa em Porto Alegre, depois, ficou em segundo na etapa nacional, em São Paulo, o que a levou para a final mundial, em Ibiza, na Espanha, onde ficou entre as 10 melhores do mundo. Mas e daí?
Tudo o que ela tinha, a essa altura, era a suspeita do talento. Os resultados excelentes nesses concursos deram a ela fortes indícios de que essa era uma das suas habilidades. Ela teve essas primeiras constatações em outubro de 1994. A revelação mais significativa, porém, só aconteceu em 1998, quatro anos depois, quando venceu o Prêmio Phytoervas Fashion de Melhor Modelo. Durante esses quatro anos houve muito trabalho e pouco reconhecimento. “Ela foi muito recusada. Demorou a emplacar”, diz Mônica Monteiro, ex-agente da modelo.
O que isso nos diz? Gisele não nasceu top número 1, ela se tornou top número 1. Mônica conta que, no início da carreira, Gisele não era a modelo perfeita para o mercado em voga na época. “Ela rebolava e mexia os ombros”, diz. “Tentei corrigir essa mania dela, porque era uma época em que todas as garotas obedeciam à regra de andar sem movimento. Mas por mais que tentasse, ela não conseguia”, confessa Mônica.
A primeira vez que Gisele apareceu numa capa internacional foi em março de 1998. A partir de então, seu visual começou a roubar o espaço do estilo anoréxico em alta na época. A afirmação definitiva veio um ano depois, em 1999, quando ela emplacou de uma só vez todas as capas e editoriais mais importantes do mundo fashion. Gisele desbancou de vez o visual antigo e impôs o estilo à la Bündchen. Mas lá já se iam cinco anos de muito trabalho. Perceba que, entre 1994 e 1998, Gisele obteve poucos resultados públicos. Um ano depois, porém, ela havia conquistado o mundo. É importante perceber que, ao longo desse processo, Gisele não concentrou esforços para se adaptar ao mundo da moda. Ela não competiu com ninguém. O que ela fez, ao longo desses anos, foi desenvolver o melhor que tinha dentro de si, e o mundo da moda se adaptou a ela.
SÍNTESE
Até aqui, falamos sobre conceitos indispensáveis para ter sucesso e felicidade na vida. Vimos como as pessoas de sucesso descobrem seu talento, investem nele, como elas desenvolvem uma visão clara sobre o que querem e, acima de tudo, sobre quem elas são. Por conhecerem-se a si próprias, elas têm consciência e clareza das suas convicções. Assim como Elizabeth Gilbert, elas assumem um postulado com seu propósito e constantemente buscam alinhar foco e propósito. Mas ao partir para a prática, como isso funciona?
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